Fim da linha: Orkut será descontinuado até o fim de 2014, diz jornal
Por Caio Carvalho |
O que parece ter sido evitado há anos pode finalmente acontecer. De acordo com informações do jornal Folha de S.Paulo, o Google deu o ultimato para o Orkut e vai encerrar o serviço de vez até o fim de 2014.
A publicação afirma que a empresa não vai mais permitir a criação de novos perfis a partir desta segunda-feira (30), quando se iniciam os últimos seis meses de vida da plataforma. Todos os dados dos usuários (fotos, vídeos, contatos e scraps) poderão ser exportados para a outra rede social da gigante das buscas, o Google+, através de uma ferramenta que também poderá converter o perfil do Orkut em perfil do Google+.
Além disso, o endereço "orkut.com" também deve deixar de existir após o dia 31 de dezembro, pois o criador da rede, o engenheiro turco Orkut Büyükkökten, deixou o Google há quatro meses e pretende manter controle sobre o domínio.
Mesmo com a possível desativação definitiva, algumas funcionalidades do Orkut continuarão no ar. É o caso das comunidades, que não terá mais opções de interação entre internautas, mas ficará mantida de forma "congelada" como uma espécie de museu do serviço. Quem utilizava o Orkut em seus anos de glória sabe que as comunidades eram o grande atrativo do site e chegaram a "reviver" recentemente com a criação de diversos eventos fakes no principal concorrente, o Facebook.
A Folha ainda revela que os dados mantidos no Orkut continuarão ativos até o final do ano para não interromper a investigação de usuários suspeitos na participação de crimes digitais, sendo a pedofilia o mais identificado. Em 2008 o Google e o Ministério Público firmaram um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) sobre o tema como resultado da CPI da Pedofilia, no qual ficou decidido que a companhia de Mountain View preservaria dados necessários às investigações do crime por um prazo de 180 dias (prorrogável por mais 180 dias).
O Canaltech apurou a informação que diz respeito à criação de novos perfis no Orkut e, até o fechamento desta matéria, não enfrentou problemas para se cadastrar no site.
Página do Orkut ainda permite criação de perfil (Foto: Reprodução)
Também tentamos acessar perfis mais antigos na rede social e eles continuam ativos. Não há nenhum lembrete ou indicativo da suposta ferramenta que fará a migração de perfil para o Google+ – a não ser a recomendação de amigos que já utilizam a plataforma (ali no canto direito da imagem abaixo) e de algumas notícias mais populares no G+ (ao centro).
Home do Orkut ainda não oferece ferramenta de migração para o Google+ (Foto: Reprodução)
História
Criado em janeiro de 2004, o Orkut se tornou uma das primeiras redes sociais de maior sucesso do mundo, juntamente com o MySpace, que surgiu em agosto de 2003. Na época, só era possível entrar no site com um convite de alguém que já estava cadastrado e ainda seria preciso aguardar aprovação do Google para começar a usar o serviço. A medida fez com que a rede logo se difundisse entre os internautas, especialmente quando ganhou uma versão em português, em abril de 2005.
Uma das características mais icônicas do Orkut foram os scraps, que nada mais eram do que as mensagens enviadas de outros usuários para você. À época, ainda não existia uma superexposição na web por parte de algumas pessoas, ou seja, sempre que alguém quisesse falar com você era necessário entrar no seu perfil e mandar um recado em uma seção de scraps, que não era exibida direto no perfil – ao contrário do que acontece no mural do Facebook.
Foi logo no início que surgiram frases como "só add com scrap" e "respondo e apago", uma menção a usuários mais seletivos. Houve também um episódio que ficou mundialmente conhecido, em 2006, quando a banda U2 realizou um mega show no Brasil. A usuária Katilce Miranda, que esteve no show, recebeu mais de 4 milhões de scraps em apenas onze dias após subir ao palco e ganhar um selinho do vocalista Bono. Ela foi uma das primeiras webcelebridades brasileiras.
Além dos scraps, as comunidades foram outra sensação do Orkut. Nelas era possível criar tópicos de discussão e interagir com outras pessoas – quem não se lembra dos "jogos do add", "beija ou passa?" e tantas outras brincadeiras? A diferença é que muitos desses "espaços" ganhavam seguidores apenas pelo título, como "Eu Odeio Acordar Cedo" e "Grávida de Luis Carlos Prestes". Mais do que apenas divertir, as comunidades também serviram como grandes fóruns online que incluíam seriados, filmes e programas de TV para baixar (mesmo que ilegalmente), além de ajudar grupos na formação de caravanas para ir a shows.
O perfil do Orkut ainda tinha alguns elementos que marcaram época. Entre eles estava uma espécie de raking que permitia a outras pessoas classificá-lo como "confiável", "legal" e "sexy". Os depoimentos também fizeram história na rede social e funcionavam como o que são hoje as recomendações do LinkedIn, só que de uma forma bem mais exagerada.
Declínio
Em julho de 2008, o Orkut alcançou a marca de 40 milhões de brasileiros cadastrados, tornando-se o maior público do serviço. Isso fez com que o Google passasse o controle mundial da plataforma para a divisão do Google Brasil, que administra o site até hoje. E mesmo com a implementação de outras ferramentas – mensagens privadas, sorte do dia, GIFs, visitantes recentes, Buddy Poke –, a página sucumbiu ao crescimento de outras páginas e hoje vive como uma "cidade fantasma".
O site até apresentou um visual diferente do original em março de 2011, mas não foi suficiente. A surpresa foi maior ainda quando foi constatado que o blog oficial do Orkut parou de receber atualizações desde outubro do ano seguinte e, em maio de 2013, a rede perdeu 95,6% do número de acessos fixos no Brasil em três anos, enquanto o rival Facebook fechou o mesmo período com 66,54% de visitas no país. Em dezembro do mesmo ano, o site caiu dos 40 milhões para apenas 6 milhões de usuários ativos mensalmente.