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Análise | Past Cure é uma mistura que dá liga, mas tem muito a melhorar

Por| 28 de Fevereiro de 2018 às 10h36

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Análise | Past Cure é uma mistura que dá liga, mas tem muito a melhorar
Análise | Past Cure é uma mistura que dá liga, mas tem muito a melhorar

Todo criador tem suas influências – e há até quem diga que, em nosso mundo, nada se cria, tudo se copia. Dificilmente aquela ideia inovadora é realmente nova, e não há problema nenhum nisso. Não existe falha em estar sobre os ombros de gigantes para criar seu próprio trabalho – o que pega mesmo é quando essas referências são mal utilizadas.

Normalmente, o resultado dessa mistura de conceitos que funcionam em outros títulos é um fracassado game sem muita expressão nem personalidade. De vez em quando, entretanto, surge alguém capaz de colocar boas influências no liquidificador e terminar com um bom suco no copo. É o caso da Phantom 8 e seu game de estreia, Past Cure, que está disponível para PC, Xbox One e PS4.

O título não esconde suas inspirações, que vêm dos mais variados gêneros e títulos possíveis. Temos toques de Heavy Rain, Portal, Resident Evil, Max Payne e, no que parece ser a maior referência de todas, The Evil Within. Temos então, um título que define a si próprio como um thriller de ação com terror e furtividade – uma salada que funcionou, apesar de ainda ter amplo espaço para melhorar.

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Linha reta torta

No game, controlamos Ian, um soldado que não tem memórias dos três últimos anos de sua vida. Cheio de cicatrizes e marcas pelo corpo, ele se descobriu na posse de poderes mediúnicos, que unidos à sua habilidade com armas o tornaram um guerreiro implacável. Em sua mente, entretanto, estão pesadelos, aflições e lembranças que ele não consegue compreender, tornando-o um indivíduo, ao mesmo tempo, devastado e incrivelmente poderoso.

Logo de início, inclusive, já acordamos em um mundo de pesadelo. Em um tutorial que ocupa praticamente toda a primeira hora de Past Cure, conhecemos o sistema do jogo, que tenta emular os antigos games divididos em fases e com ondas de inimigos, e também as mecânicas. Elas são diversas e vão desde disparos convencionais até os poderes de Ian, que envolvem projeção austral e manipulação temporal, que podem ser utilizadas tanto durante combates quando na resolução de puzzles.

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Mas não se preocupe, você saberá exatamente quando fazer o que. Para o bem e para o mal, Past Cure é um título extremamente linear – esse é um reflexo da pegada cinematográfica do game e seu foco no enredo, mas, ao mesmo tempo, coloca o jogador para andar sempre em frente, com quase nenhum espaço para improvisação ou exploração. O título, o tempo todo, vai nos pegar pela mão e mostrar a maneira exata de resolver o próximo obstáculo.

Isso também se reflete em um caráter de simplicidade, que ultrapassa a barreira da objetividade e beira o incômodo. Existem apenas três armas diferentes no game e um número limitado de enigmas, sempre resolvidos das mesmas maneiras. Os inimigos também se repetem, o que faz sentido com os assustadores manequins demoníacos, mas causa estranheza quando vemos modelos repetidos de soldados humanos, muitas vezes com duas ou mais pessoas iguais na mesma sala. O mesmo vale para os cenários, sempre repetitivos e com pouquíssima personalidade, apesar dos bons gráficos e, principalmente, efeitos de iluminação.

Os controles também não dão muita margem para manobra. Nas cenas de ação, por exemplo, é possível escolher entre ser furtivo, matando os inimigos um a um, ou partir para o “modo Rambo”, atirando em todo mundo. Entretanto, a combinação dos poderes de reduzir a passagem do tempo com disparos bem dados acaba sendo o ideal para quem não quiser passar raiva com a jogabilidade dura e travada.

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Nesse aspecto, diversos bugs também aparecem. Abordagens furtivas podem ser simplesmente frustradas quando o prompt de matar oponentes simplesmente não aparece, isso sem falar nos momentos em que os inimigos enxergam Ian mesmo por trás de uma parede. Tal aspecto é particularmente irritante no longo trecho em que o protagonista não pode ser visto, uma das mais longas e frustrantes etapas de Past Cure.

Na versão PC, ainda, pressionamentos de botões nos controles podem nem sempre serem detectados, e, em uma opção estranha, é o jogador quem deve escolher qual joystick está usando, entre o PS4 e Xbox, a não ser, claro, que deseje ver as indicações aparecendo na tela de forma confusa. As legendas, às vezes, não acompanham os diálogos, que têm problemas de sincronia labial. Pausar no meio das cutscenes, ainda, pode fazer com que o áudio desapareça completamente logo depois.

Tais falhas, entretanto, aparecem principalmente nos momentos de maior movimentação, que compõem o primeiro terço de Past Cure. Nos momentos de terror, é claro, seguimos com a mesma jogabilidade de antes, mas, aqui, falamos de uma abordagem completamente diferente. É onde o título da Phantom 8 demonstra suas qualidades e, também, onde está a parte que o torna mais interessante.

Entre realidade e pesadelo

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Logo de início, Ian é pintado como um supersoldado poderoso. No primeiro terço do jogo, ele se mostra justamente como tal, ultrapassando hordas de oponentes sem muita dificuldade. Seus maiores inimigos, entretanto, estão dentro de sua própria mente – ou não, já que até mesmo para o jogador fica difícil saber exatamente o que está acontecendo.

Se em sua primeira parte Past Cure é um shooter descuidado e mal realizado, no restante traz um suspense interessante. Nos ambientes escuros de uma prisão e nos corredores bizarros do cérebro do protagonista, ou de sua junção com a realidade, estão as chaves para resolver o enigma de seu passado e, também, de porquê tanta gente quer vê-lo morto.

Tudo isso sem poder ser visto nem fazer nada contra seus inimigos. Se o primeiro terço de Past Cure foca na ação, no segundo não há outra opção a não ser o cuidado, uma vez que nem mesmo mortes furtivas são possíveis contra os bizarros manequins que habitam o local. Eles, ao contrário de Ian, são bem eficazes em assassinato e podem fazer isso com um único toque no protagonista.

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É nesse trecho, com cara de The Evil Within, que também estão os melhores enigmas do jogo, que deixam de exigir apenas o uso dos poderes e o pressionamento de um botão para, efetivamente, colocar a cabeça do jogador para funcionar. São eles, inclusive, que compensam a frustração e o gosto amargo deixado pela primeira parcela do título.

É por conta desse último aspecto, também, que os jogadores se lembrarão de Past Cure por algum tempo – até porque seu final inconclusivo deixa margens para discussões e teorias. São eles que dão forma e corpo ao título e o levam além de uma mistura de um monte de coisa legal.

Não dá para deixar de lado a noção de que o game da Phantom 8 é, sim, um apanhado de elementos. Em meio a tudo isso, entretanto, Past Cure não soa como um game sem personalidade, mas sim como um thriller que vale a pena ser experimentado, apesar das arestas pouco polidas e da noção de que ele poderia ser muito melhor com um pouco mais de cuidado.

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* Past Cure foi analisado no PC, em cópia digital gentilmente cedida ao Canaltech pela Phantom 8.