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Análise | Man of Medan é um terror narrativo e angustiante

Por| 04 de Setembro de 2019 às 10h54

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Análise | Man of Medan é um terror narrativo e angustiante
Análise | Man of Medan é um terror narrativo e angustiante

As antologias são uma das grandes tradições do terror, principalmente na literatura. Nomes contemporâneos como Stephen King ou clássicos como Edgar Allan Poe já apostaram nessa abordagem mais contida, mas não menos assustadora, com histórias curtas que exibem o que há de mais sombrio em suas mentes. E, agora, é hora de a Supermassive Games fazer o mesmo.

Man of Medan é o primeiro game da Dark Pictures Anthology, uma sequência de jogos que vai abordar diferentes clichês do terror, em títulos com foco narrativo e pinceladas de exploração, onde até mesmo a morte de todos os protagonistas pode ser um final. Quem jogou Until Dawn, o game anterior da desenvolvedora, sabe o grau de responsabilidade e temor que passamos enquanto os protagonistas iam caindo um a um, e tudo isso está de volta nessa nova empreitada da produtora.

O ambiente da vez é um navio fantasma, abandonado em alto mar desde a Segunda Guerra Mundial. Um grupo de jovens meio folgados e seguros demais de si vai aprender uma lição de humildade não apenas pelas mãos de piratas, interessados na mesma coisa que eles, mas também de forças sobrenaturais contidas no chamado Ouro da Manchúria. E como sempre acontece em histórias náuticas, mesmo aquelas não focadas no terror, a busca por riquezas e dinheiro fácil nem sempre acaba bem.

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Como Until Dawn, Man of Medan puxa mais para o lado do filme interativo do que do game, apesar de apresentar bem mais momentos de exploração e jogabilidade do que seu antecessor. Na maior parte do tempo, entretanto, o grosso do gameplay acontece por meio do sistema de decisões, que não apenas serve para guiar os personagens para a vida ou a morte nos momentos críticos, como também definir alinhamentos entre eles que podem afetar a trama.

Não é exagero dizer que até mesmo o mais sutil dos detalhes é capaz de alterar a narrativa, em maior ou menor grau. A descoberta de um segredo sobre um personagem, por exemplo, pode modificar uma cena mais adiante no game, enquanto os reflexos rápidos nos botões e as decisões tomadas em cima do laço podem levar a caminhos nada desejáveis para os jogadores. E o mais impressionante é que, por mais babacas ou esquisitos que os protagonistas soem, você ainda consegue se importar com eles.

O envolvimento não é do tamanho do visto em Until Dawn, muito por culpa de um roteiro não tão bem escrito e também de visuais que são por vezes esquisitos e em outros momentos chegam a beirar o uncanny valley. Ainda assim, cada morte serve como uma pancada para o jogador, mesmo que a porrada seja na cabeça de um protagonista detestável, e terminar a aventura com todos vivos se torna uma missão das mais difíceis de cumprir.

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Boas ideias e dificuldades

Ao levar Man of Medan para um universo multiplataforma, ao contrário de Until Dawn, exclusivo do PS4, algumas adaptações tiveram de ser feitas. Deixaram de existir (para alívio dos jogadores) o uso dos sensores de movimento, um dos fatores mais aterrorizantes do game anterior. Em seu lugar, entrou uma espécie de minigame rítmico, enquanto a Supermassive Games apostou forte em momentos de exploração para ampliar seu alcance junto ao público.

Aos fãs de Survival Horror do passado, a experiência chega a ser um deleite, lembrando os clássicos momentos passados com jogos como Resident Evil e Silent Hill. A câmera, na maioria das vezes, é posicionada em ângulos inusitados para fazer parecer que alguém está observando o jogador. Funciona e, em diversos momentos, você vai jurar que viu algo em um cantinho, mas não há mais nada lá. E, acredite, muitas vezes seus olhos não estarão te enganando.

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Uma herança maldita de 20 anos atrás, entretanto, também aparece na movimentação, travada e mais tanque até mesmo do que os clássicos do gênero. Andar com os personagens pelos cenários destruídos e cheios de objetos nem sempre será tarefa fácil e o jogador vai encontrar diversas paredes invisíveis, bem como itens que só podem ser coletados ou visualizados a partir de uma posição específica. São momentos pontuais, mas que chamam a atenção negativamente.

Mais frequentes, por outro lado, são as quedas nas taxas de quadros por segundo e os problemas de performance de Man of Medan. O jogador saberá exatamente quando o game está carregando a próxima cena, pois a contagem de FPSs baixará de maneira drástica, gerando problemas de sincronia labial e de legendas, única opção de localização em português brasileiro do game.

O problema é que o jogo da Supermassive é baseado em decisões rápidas e de momento, com trechos definidores da história que resultam na morte ou sobrevivência de um protagonista. E durante nosso processo de análise, um problema de performance desse tipo fez com que perdêssemos uma das personagens, pois o prompt de pressionamento repetitivo de botões não apareceu com tempo suficiente para que a tarefa fosse completada.

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O problema aparece nas versões-base do PlayStation 4 e Xbox One, gerando uma sensação que nunca é das melhores. As falhas na performance foram corrigidas em atualizações liberadas no dia do lançamento, mas as baixas na contagem de quadros ainda permanecem e podem atrapalhar muito.

Mais uma chance

Entre clichês envolvendo o mauricinho interpretado por Shawn Ashmore, cara mais reconhecível do game, ou os irmãos Chris Sandiford e Kareem Tristan Alleyne, um esportista e o outro nerdão, está o Curador interpretado por Pip Torrens, a figura mais interessante de todo o game. Ele já sabe o que vai acontecer e decide brincar com o jogador, entregando dicas que podem mudar as coisas e facilitar a jornada, ou não, já que ele também pode te pregar uma peça de acordo com as atitudes que vem tomando.

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Nenhum deles entrega a melhor das atuações, com Man of Medan trazendo aquele ar brega e quase jocoso de um filme B de terror. Já era assim desde Until Dawn, e a produtora parece tomar uma decisão consciente de permanecer com esse tom, mesmo que isso acabe gerando as já citadas dificuldades no envolvimento do jogador com a trama e seus protagonistas.

Por outro lado, algumas viradas de roteiro e indicações sutis dadas pelo contador de histórias, principalmente, soam como brilhantes e são capazes de mexer com os brios do jogador, alterando completamente seu alinhamento em relação à trama. Às vezes, a resposta sobre um enigma pode ser dada imediatamente depois de o usuário tomar uma decisão relacionada a ele, chutando por puro e simples desconhecimento. Você não sabia e agora terá de lidar com as consequências.

Mesmo em uma segunda jogada, com spoilers já absorvidos e um conhecimento maior dos rumos da trama, fazer com que todos sobrevivam é tarefa difícil. Afinal de contas, como dito, todas as decisões alteram a história, e aquilo que você toma como garantido pode rapidamente se transformar em ameaça quando, novamente, desbravamos um braço completamente inédito da trama.

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O modo multiplayer, que inclui coop de sofá com a boa e velha troca de controles ou um compartilhamento online de decisões, também contribuiu para o fator replay de Man of Medan. Depender dos outros para as decisões é um caminho que traz ainda mais angústia às partidas, enquanto a “noite de filme” compartilhada pode se tornar um belo programa de fim de noite.

Podendo ser finalizado em cerca de cinco horas, Man of Medan é um ótimo começo para a Dark Pictures Anthology, que, em sua continuação, abordará uma história de floresta assombrada. Por mais que tenha evoluído muito em relação a Until Dawn em alguns aspectos, e pouco em outros, esse é o título que os apaixonados pela história anterior da Supermassive Games estavam esperando, fazendo com que eles, mais uma vez, lutem pela sobrevivência do jovem.

Man of Medan foi testado no PlayStation 4 em cópia digital gentilmente cedida pela Bandai Namco.