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Análise: Remember Me

Por| 12 de Julho de 2013 às 11h10

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Capcom/Dontnod
Capcom/Dontnod

A atual geração de consoles está perto de se aposentar. Há quem diga, no entanto, que este é o melhor momento para extrair o potencial máximo de cada plataforma, já que os desenvolvedores se habituaram a elaborar conteúdos ricos em detalhes, que beiram o realismo. A novata Dontnod aproveita esse cenário para apresentar uma nova propriedade intelectual que compete com títulos de peso que já estão no mercado, como BioShock Infinite, Tomb Raider e The Last of Us.

Remember Me é o resultado do trabalho de cinco anos da equipe desse recente estúdio francês. O game, publicado pela Capcom, se apoia em temas como ficção científica e o controle de um governo onde tudo é megamonitorado, digno de filmes como "Blade Runner - O Caçador de Androides", "O Vingador do Futuro" e "Matrix", além da obra literária "Neuromancer". Todos retratam diferentes pontos de vista de um futuro distópico da humanidade. E Remember Me não foge a essa regra.

O ano é 2084. A cidade, Neo-Paris. E você é Nilin, uma jovem que trabalha para uma das maiores corporações da atualidade, a Memorize. A companhia é responsável pela criação do Sensation Engine (Sensen), uma tecnologia que permite hackear a memória de qualquer pessoa e se tornou o vício da humanidade. Uma vez implantado, o dispositivo é capaz de manipular por completo as lembranças do usuário, podendo incluir, extrair ou alterar uma memória boa ou ruim. Tudo, claro, tem seu preço: em troca do Sensen, todas as suas recordações são arquivadas pela Memorize.

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Este, sem dúvida, é o principal questionamento levantado pela narrativa: uma vez que o Sensen é acoplado ao corpo, a Memorize e o governo têm total controle sobre quem você é, quais são suas lembranças passadas, segredos e memórias mais profundas.

Muita ficção? Nem tanto assim. Se você parar para pensar, sites, redes sociais e outros serviços conectados exigem seus dados pessoais para a realização de atividades online. As empresas garantem que todas essas informações ficam armazenadas de forma segura, longe de cibercriminosos e ameaças virtuais - que às vezes até conseguem uma brecha aqui e acolá, mas não causam danos maiores. Contudo, sabemos que não é bem isso o que acontece.

Ficção se mistura com realidade, e não é difícil comparar o enredo de Remember Me com o caso Edward Snowden, o ex-funcionário da CIA que vazou o esquema de ciberespionagem comandado pelos Estados Unidos. Os dados de milhões de usuários de páginas como Google e Facebook nas mãos de órgãos governamentais, que vigiam a população 24 horas por dia. Assim como no jogo, manter a segurança de algo maior que os cidadãos parece engolir o conceito de liberdade de expressão e livre arbítrio.

Fato é que a história de Remember Me flui de maneira eficiente, nada cansativo aos olhos do jogador, que também acompanha a busca de Nilin pela verdade. Todos conhecem a personagem e um pouco de quem ela foi antes de ter as recordações roubadas pela Memorize - por sinal, a mesma empresa que a contratou para ser uma ladra de memórias. Aos poucos, a heroína se lembra da própria identidade e questiona em diversos momentos o próprio passado. "Se eu sou a caçadora, então por que estou sendo caçada?".

É aí que surge um dos elementos mais criativos do game: o Memory Remix, uma ferramenta usada para alterar as lembranças de algumas personagens em cenas de animação interativa. Uma vez acessada a memória de cada pessoa, você utiliza os dois direcionais analógicos para voltar ou avançar e encontrar lacunas que modifiquem os acontecimentos. No maior estilo "A Origem", filme de Christopher Nolan, o Remix serve como um ótimo pretexto para hackear, investigar e manipular realidades a seu favor, mesmo que sejam poucas as vezes que você precise utilizar o recurso.

Além do enredo, Remember Me tem uma direção de arte impecável e primorosa; você com certeza vai se pegar admirando as paisagens de uma Paris clássica e ao mesmo tempo futurista. Robôs, hologramas gigantes, cardápios que aparecem ao passar em frente de um restaurante e outros símbolos de uma vida high-tech contrastam com pontos turísticos da capital francesa, como a Torre Eifel e a Bastilha. As favelas também são amplamente detalhadas, cheias da cultura cyberpunk: misturam a pobreza dessas regiões com o que sobrou de uma inteligência artifical desgastada, como máquinas velhas e robôs quebrados.

A parte ruim é que não existe abertura para explorar nenhum cenário. Você até pode vasculhar mais a fundo pequenas áreas à procura de itens colecionáveis, mas toda a história segue uma linha cronológica linear. Setas, avisos e dicas aparecem na tela indicando o caminho a seguir, o que é perigoso para a saúde da personagem e o que se deve fazer para chegar ao objetivo. Tamanha simplicidade não prejudica a experiência final do jogo como um todo, mas deixa a desejar se levar em conta que não existe uma segunda opção para nada. Basta continuar em linha reta e ponto.

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Frustrante também é o sistema de combates de Remember Me - uma pedra no sapato para aqueles que prezam pela jogabilidade. Pelo Laboratório de Combos, é possível montar combinações pré-determinadas de golpes que, quando usados na sequência correta, provocam efeitos de cura ou dano. Sim, você pode apertar um único botão de soco ou chute durante as lutas, mas o divertido mesmo é seguir os comandos escolhidos no menu para ganhar mais bônus ao final das batalhas. Quando colocada em prática, porém, essa mecânica se mostra limitada e repetitiva, sem grandes surpresas que façam você jogar o título novamente.

A verdade é que Remember Me era muito maior do que realmente é; um claro exemplo que os jogos de videogame precisam cada vez mais saber conversar entre narrativa e jogabilidade, sem tornar um ou o outro dispensável. Por outro lado, a aposta da Dontnod não deve ser ignorada: além do belo trabalho artístico na construção dos cenários, a trilha sonora merece ser ouvida várias e várias vezes dentro e fora do game. Compostas pelo instrumentista Olivier Derivière, as faixas se encaixam com a grandiosidade de uma Paris que você acredita ser de verdade, em um misto de música clássica com remix e dubstep que exaltam o tema principal da narrativa: as memórias.

Ainda é cedo para decretar o esquecimento de Remember Me. Tudo vai depender da Dontnod e da Capcom, que agora podem aproveitar as ótimas ideias de uma franquia que precisa ser moldada para ficar por muito tempo em nossas lembranças.

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Notas:

  • Enredo: 9.3
  • Arte: 9.5
  • Áudio: 9.5
  • Jogabilidade: 5
  • Conjunto: 6.7
  • Nota Final: 7