Ferramenta de produtividade do Office pode permitir espionagem por empregadores
Por Felipe Demartini | 27 de Novembro de 2020 às 12h22
Uma ferramenta do Office liberada no começo deste mês está sendo apontada por especialistas e ativistas em prol da privacidade como uma forma de empregadores espionarem e controlarem seus colaboradores, mesmo remotamente. Trata-se da chamada Pontuação de Produtividade, que fornece métricas sobre como os funcionários estão utilizando a suíte de aplicativos durante a rotina de trabalho.
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Nas palavras oficiais, a Microsoft fala no recurso como uma forma de auxiliar as organizações na transição para o trabalho remoto, gerando uma pontuação de produtividade que exibe como os trabalhadores estão utilizando os programas. As métricas são geradas de acordo com o uso de recursos de trabalho em equipe, colaboração, comunicação, produção de conteúdo, chamadas e outros elementos, além do uso da rede.
Todos os dados são tabulados e transformados em uma pontuação para a empresa, que leva em conta as rotinas ligadas não apenas a softwares como Word, Excel, PowerPoint e Outlook, mas também o uso de Skype, OneDrive e Teams. As informações dos trabalhadores são atualizadas diariamente e podem ser visualizadas por gestores em gráficos de 28 e 180 dias, além de comparados com métricas de outras organizações semelhantes. Dicas para melhoria e pontos de atenção também são indicados automaticamente pelo sistema, que está disponível para os assinantes de planos empresariais do Office 365.
Na visão do pesquisador em privacidade Wolfie Christl, porém, tais recursos transformam a suíte de apps em uma ferramenta de vigilância sobre o trabalhador. Como os dados podem ser obtidos de forma individualizada, ainda que somente em conjuntos de pelo menos um mês, é possível entender exatamente como é a rotina de cada colaborador, incluindo hábitos em relação à comunicação, nomes mais citados e o tempo gasto no envio de e-mails, conversas de chat e outras funcionalidades. Além, é claro, de deixar claro exatamente quanto tempo não é passado fazendo isso.
A funcionalidade pode ser desligada por gestores ou os próprios usuários, mas é ativada por padrão a todos os membros caso a organização responsável pela conta decida usar o recurso. O especialista chama a atenção, ainda, para o recurso de comparações, que exige o envio da telemetria aos servidores da Microsoft sem que o colaborador tenha dado consentimento explícito, algo que fere leis de privacidade internacionais. Christl aponta ainda que seu uso seria ilegal, desta maneira, em boa parte dos países da União Europeia.
O pesquisador aponta ainda o que seria um abuso de poder da própria Microsoft, com uma definição de métricas e a ideia de que sugestões para melhorar o trabalho seriam, na verdade, uma maneira de a empresa moldar como as organizações funcionam. Segundo ele, não é a primeira vez que a companhia se envolve em sistemas de análise de produtividade e rotinas de trabalho usando o Office, mas esta, talvez, seja a ocorrência mais extensa disso.
Em declaração enviada à Forbes, a Microsoft afirmou que a opção de usar ou não as ferramentas de produtividade pertence a cada empregador e usuário, com a empresa sendo clara sobre o funcionamento do sistema e sua utilização. Além disso, a companhia negou que seja possível ter acesso a dados específicos de utilização, uma vez que as métricas só são apresentadas em conjuntos de, no mínimo, 28 dias, não sendo exibidas antes disso e sendo apagadas quando não estiverem mais dentro desse intervalo.
Além disso, segundo a empresa, as pontuações não são dadas de forma individual, a cada funcionário, mas sim a toda a organização, enquanto apenas os dados podem ser visualizados caso a caso. Ainda, a Microsoft defendeu o recurso afirmando que ele vai além, apenas, do comportamento dos trabalhadores, trazendo insights sobre a qualidade de redes internas, gargalos de tecnologia e demais dados de desempenho não necessariamente relacionados às rotinas de trabalho dos colaboradores.
Fonte: Forbes, Wolfie Christl (Twitter)