EUA estão espionando infraestrutura de energia da Rússia
Por Felipe Demartini | 17 de Junho de 2019 às 12h35
Os Estados Unidos estariam entranhados diretamente na infraestrutura energética da Rússia, realizando operações ativas de espionagem em uma espécie de alerta ao país rival. A informação foi passada à imprensa americana por oficiais do Comando Cibernético americano, que estaria agindo em uma escala nunca antes vista desde o início de suas operações.
Os trabalhos, de acordo com as fontes ouvidas pelo jornal The New York Times, teriam se intensificado ao longo do último ano. Códigos de vigilância e obtenção de dados estariam inseridos nas redes de energia russas com o objetivo de manter o que foi chamado de “presença persistente” na infraestrutura. Entretanto, nenhum ataque teria sido realizado a partir de tais aberturas.
As operações do Comando Cibernético voltadas para o setor elétrico da Rússia teriam começado em 2012, jamais parando, mas também nunca possuindo o nível de atividade visto entre o final de 2018 e este primeiro semestre de 2019. De acordo com os oficiais, tal agressividade ainda não havia sido registrada e malwares potencialmente disruptivos estariam instalados nos sistemas do país rival, teoricamente prontos para a realização de ataques que poderiam colocar em xeque o fornecimento de eletricidade no país.
Seria, de acordo com as fontes, algo colocado ali apenas com a intenção de uso “caso necessário”. Possuir malwares e focos de ataque ativos se tornou uma prioridade para os oficiais do Comando Cibernético, que não falaram à reportagem sobre atos específicos nem deram detalhes sobre as novas autorizações concedidas pelos superiores, que teriam liberdade para agir a partir de ordens do Secretário de Defesa James Mattis, que teria independência e poderia tomar decisões mesmo sem consultar o presidente Donald Trump.
Apesar de não terem dado informações precisas sobre as operações, a imprensa americana afirma que elas seriam semelhantes às registradas em novembro de 2018, às vésperas de eleições nos EUA. O foco, na ocasião, era acabar com operações de manipulação política e fake news que estariam sendo realizadas a partir da Internet Research Agency, uma agência de Moscou com ligações ao governo Putin. Na ocasião, o grupo teria seu acesso à internet cortado remotamente e perdido o acesso a perfis e grupos em redes sociais.
Neste caso, o alerta às autoridades russas seria de que o governo dos Estados Unidos estaria disposto a realizar ciberataques caso se sentisse ameaçado, uma bravata raramente acompanhada de atitudes reais que acontecem nos bastidores das conversas diplomáticas entre os países. Mais uma vez, a preocupação seria quanto às vindouras eleições do ano que vem, na qual a presidência mais uma vez será decidida. De acordo com o Conselheiro de Segurança John Bolton, o governo está disposto a fazer com que qualquer um que tente interferir no processo democrático “pague um preço alto”.
O próprio presidente, entretanto, não teria sido informado sobre os passos da operação nem saberia da presença dos malwares na estrutura energética russa. Seria uma medida de segurança, de forma a evitar que o assunto seja discutido com círculos internos que não precisam saber, e também um temor de que o líder interrompesse os trabalhos, deixando o que seriam os interesses do país menos protegidos.
Oficialmente, entretanto, nada de comunicado do governo americano sobre a suposta presença na infraestrutura russa. Da mesma maneira, o Kremlin também não se manifestou sobre o assunto.
Fonte: The New York Times