EUA vai criar “Força Espacial” para proteger soberania do país fora da Terra
Por Felipe Demartini | 10 de Agosto de 2018 às 11h51
Em uma notícia que poderia muito bem estar nos letreiros iniciais de um filme de ficção científica, o governo dos Estados Unidos anunciou nesta semana a criação de um novo comando militar para proteger sua presença no espaço. A Força Espacial, como foi chamada, pode começar a operar em 2020 e serviria para proteger a soberania do país fora da Terra.
O anúncio foi feito pelo vice-presidente americano, Mike Pence, que citou Rússia e China como alguns dos principais adversários da nova divisão militar. Segundo ele, o espaço era pacífico e incontestado até então, mas recentemente houve “perturbações” e “desafios” que levaram os EUA a perceberem que apenas ter uma presença fora da Terra não seria suficiente – é preciso ter o domínio e, acima de tudo, uma equipe dedicada a trabalhar pela defesa das operações do país.
A proposta, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso antes de virar realidade, foi assinada pelo Departamento de Defesa. Em um documento submetido à análise dos representantes do povo, estão elencadas uma série de medidas necessárias para o desenvolvimento da Força Espacial, com ações que precisariam ser tomadas desde já para que o comando começasse a trabalhar nos próximos anos.
Entre as necessidades dessa nova organização estão, por exemplo, a criação de uma agência de desenvolvimento e exploração espacial voltada especificamente para fins militares, bem como a seleção e treinamento de tropas de operações espaciais com o mesmo fim. Os soldados seriam selecionados a partir de esquadrões já existentes, mas trabalhariam sob normas, doutrinas e regras específicas para a guerra nas estrelas.
Essa ideia garantiu a adesão do secretário de defesa dos EUA, Jim Mattis, que anteriormente foi contrário à criação da Força Espacial por conta dos altos custos envolvidos. Após um acordo com a Casa Branca, entretanto, ele afirmou estar de acordo, uma vez que muitas das pesquisas, pessoal e infraestrutura já em uso pelas Forças Armadas poderão ser aproveitadas pelo novo comando.
A ideia é que a nova divisão tenha poder, relevância e investimentos iguais aos de outros setores, como a Aeronáutica, o Exército e a Marinha, mas também com inovações e métodos compartilhados, de forma a fomentar o desenvolvimento de todos os ramos das Forças Armadas. Um secretário de defesa assistente também seria designado para cuidar especificamente das operações espaciais.
O próprio Trump demonstrou apoio à ideia por meio do Twitter, como sempre, mas alguns congressistas afirmam veementemente que as Forças Espaciais não virarão realidade. De acordo com o senador Brian Schatz, do Hawaii, os aliados do líder “tiveram medo” de dizer a ele que a ideia jamais sairia do papel e considerou perigosa a noção de um presidente que adere tão rapidamente a “ideias malucas” desse tipo.
Além disso, analistas militares questionaram ao jornal The Guardian a própria criação de uma força separada, uma vez que as ameaças espaciais podem ser abordadas pela Força Aérea, que deveria receber mais investimentos e apoio para lidar com missões fora da Terra. Ainda assim, o sentimento no Congresso é favorável à proposta, que ainda não tem data para ser votada.
A aprovação é necessária de acordo com a Constituição americana, que exige esse tipo de processo para a criação de um novo comando militar. A Força Espacial seria a primeira divisão a ser criada pelas Forças Armadas dos Estados Unidos desde 1947, quando a Força Aérea foi separada do Exército e se tornou uma divisão única, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Fonte: The Guardian