Chips que imitam órgãos humanos podem substituir testes em animais
Por Gabriel Sérvio | 07 de Junho de 2016 às 13h35
A cada ano que passa, milhões de ratos e camundongos acabam morrendo em testes de laboratório pelo bem da humanidade. Pesquisadores testam o nível de toxicidade de elementos químicos, injetam substâncias e até espirram compostos químicos nos animais para descobrir perigos em potencial ou efeitos colaterais de determinados produtos antes de colocá-los à venda para o grande público. Até então, esta prática é padrão na indústria, mas há quem tente mudar tal cenário: o Congresso dos Estados Unidos vai atualizar o Toxic Substance Control Act (Lei de Controle de Substâncias Tóxicas) de 1976 e um dos tópicos levantados pelo ato é justamente a busca por alternativas viáveis aos testes feitos em animais.
Uma destas alternativas é a utilização de robôs para aplicar as substâncias químicas diretamente nas células em placas de petri. Outra envolve o uso de algoritmos que conseguem prever o nível de toxicidade baseado em efeitos de substâncias químicas similares.
Porém, a solução mais ambiciosa é o emprego de chips que simulam órgãos do corpo humano. Eles funcionam literalmente como pequenos órgãos do tamanho de uma caixa de fósforos, cada um representando uma parte ou uma função de diferentes órgãos. Todo o sistema é conectado entre si com um pequeno sistema circulatório composto por tubos microscópicos de fluido. Em resumo, o sistema poderá ser capaz de imitar o funcionamento do corpo humano por completo.
Apesar de revolucionário, infelizmente, a tecnologia ainda não está pronta para substituir os testes em animais — mesmo assim, o projeto não deixa de ser promissor para o futuro. Ao contrário das outras soluções apresentadas, o sistema de chips pode até superar os resultados obtidos nos testes feitos nos animais. O chamado Human Body on a Chip vai permitir, por exemplo, a realização de alguns testes mais críticos, até então impossíveis de serem feitos nos animais em laboratório.
A bioengenheira do MIT Linda Griffith está montando uma equipe em parceria com a Darpa e com o National Institutes of Health para tentar conectar com sucesso pelo menos 10 órgãos artificias em miniatura. O foco atual está na interação entre o sistema imunológico artificial e o fígado.
Um dos exemplos da aplicação da tecnologia é estudar como o câncer de mama pode se espalhar pelo fígado de um paciente. Segundo Griffith, uma das vantagens do sistema de chips é poder observar em tempo real o desenvolvimento da doença a nível celular, o que até então era impossível de ser feitos nos animais: "Não faço ideia de como estudaríamos isso nos animais", disse a pesquisadora. A equipe formada por ela já conseguiu conectar com sucesso sete sistemas de órgãos artificias.
O pesquisador Kris Kulp, da Lawrence Livermore National Laboratory, declarou que ainda falta algum tempo para o sistema de chips progredir. "Ainda temos que percorrer um grande caminho até conseguir substituir os testes em animais por órgãos artificiais baseados em chips", comenta. Contudo, a indústria farmacêutica já se interessa pela tecnologia e, se a pesquisa de órgãos artificias for um sucesso, é bastante provável que os testes em animais comecem a diminuir de forma progressiva.
Fonte: Wired