Tudo o que você sabe sobre extinção dos dinossauros pode ser uma farsa
Por Barbara Lage |
Os dinossauros podem ter sua história mudada bruscamente. A principal tese científica da extinção desses répteis incríveis parece estar equivocada. Talvez os históricos ventos cataclísmicos não foram a única razão, mas parte determinante de um processo que já vinha acontecendo por milhões de anos e enfraquecendo os dinossauros.
Apesar dessa nova teoria não ser tão nova assim, um estudo divulgado pelo Proceedings of the National Academies of Sciences fez a hipótese ganhar novo fôlego graças à novas evidências.
Estudos limitados
Batendo de frente com a tese do “asteroide gigante” e mostrando falhas nesse estudo, alguns pesquisadores afirmam que a linhagem de dinossauros não foi interrompida de uma hora para a outra. O processo se deu de forma lenta, e que isso se arrastou por milhões de anos antes da extinção do Cretáceo-Paleógeno. “Estudos anteriores foram bastante simples”, diz Manabu Sakamoto, paleontólogo da Universidade de Reading e autor principal da nova teoria.
Dando continuidade à pesquisa através de um procedimento mais profundo e rigoroso, Sakamoto e seus colegas mediram o número de vezes que novas espécies de dinossauros surgiram (conhecidos como “eventos de especiação”) no decorrer da história geológica. Sobre os estudos anteriores, ele garante: “Eles [os criadores da antiga teoria] contaram o número de espécies [de dinossauro] em cada era ou intervalo de tempo para ver quais prosperaram ou sumiram, e em quais momentos. Para ser honesto, essa não é uma abordagem muito estatística”.
Dentro da escala de tempo geológico, a grande ascensão da diversidade dos dinossauros aconteceu durante o Triássico e Jurássico. Já no início do Cretáceo, a “especiação” começou a parar, e, em meados do Cretáceo, a taxa de evolução desses animais sofreu uma forte queda. E a queda continuaria a acontecer por milhões de anos, antes do impacto da cratera de Chicxulub - que data exatamente da mesma época que o desaparecimento dos dinossauros no registro fóssil, e foi tida, por alguns, como clara evidência de que um impacto gigante desencadeou a extinção.
Sobre a extinção se tratar de um processo lento, Sakamoto afirma: “Novas espécies não estavam surgindo tão rapidamente quanto espécies foram extintas. Isso tornou os dinossauros vulneráveis a mudanças ambientais drásticas – especialmente a algo como um apocalipse”.
Gerta Kellerm, paleontóloga da Universidade de Princeton que não esteve envolvida no estudo, dá sua opinião à evolução das informações: “Ao longo dos anos 80 e 90, havia alegações de que os dinossauros viveram felizes até o impacto e então foram aniquilados – acho que este novo estudo acaba com essa noção”.
Na mesma época em que a cratera de Chicxulub foi descoberta, evidências de atividades vulcânicas ocorridas há 66 milhões de anos também foram achadas em uma série de formações geológicas conhecidas como as armadilhas de Deccan (veja foto abaixo de Mark Richards), que foram trazidas por outras escavações. “O impacto foi um problema isolado, enquanto que o vulcanismo aconteceu por mais de 250 mil anos. Durante aquela época, os dinossauros desapareceram rápido”, disse Keller.
Fatores da lenta extinção
“As coisas que podemos modelar são bastante limitadas, mas podemos dizer que, durante o tempo em que observamos o processo de desaceleração se tornar um declínio real, o mundo estava passando por algumas mudanças bastante drásticas”. Esses fatores incluem a dissolução do supercontinente Pangeia, a atividade vulcânica prolongada e um grande episódio de resfriamento global.
O estudo de Sakamoto não aprofunda as razões por trás da lenta decadência e, diante disso, Keller destaca: “Os pesquisadores poderiam ter um argumento realmente forte relacionado ao clima. No fim, quando o forte declínio acontece, é quando o clima começa a esfriar de forma terminal. E é aí que o desaparecimento acontece mais rapidamente”.
Passado, presente e futuro
Àqueles que não enxergam motivos para se utilizar ferramentas atuais no estudo de fatos tão longínquos, fica a informação de que os dinossauros não foram mortos de uma única vez (indo desde a mudança ambiental a erupções maciças e culminando no asteroide) e a lembrança de que essa antiga trajetória pode ser um retrato atual do rumo do nosso planeta. “Vivemos em um mundo onde nos deparamos com níveis sem precedentes de extinção quase diariamente”, garante Sakamoto. “Observando o exemplo dos dinossauros, isso pode significar que estamos deixando nosso mundo vulnerável a uma extinção em massa, dado algum tipo de evento catastrófico. Ao inferir eventos que aconteceram no passado, podemos dizer algo sobre nosso próprio futuro”.